Síntese biográfica de Padre Vítor
Filho de escravos, criado por uma madrinha fazendeira, estudou e tornou-se padre, em meio à pobreza e os preconceitos raciais e sociais do brasil escravagista do Século XIX. Sua vida missionária nas tarefas do Cristo pode ser resumida assim:
Lembra-te de tua última encarnação na Terra? Quiseste as maiores restrições: origem miserável, orfandade em tenra meninice, dificuldades nos estudos, imensos obstáculos no exercício de tuas funções de padre filho de escravos criado por uma fazendeira, objeto de preconceito no seminário e de maior preconceito ainda numa paróquia em que predominavam riquíssimos fazendeiros do café! E com que realizações sonhaste? Eram tantas, em face de tão grandes óbices que tinhas que vencer, que não parecia um planejamento e sim um sonho difícil de realizar. E, no entanto, palmilhaste a existência terrena seguindo a mais pura Lei do Cristo! Foste educador, deixaste incontáveis discípulos! Foste empreendedor, criaste escolas! Foste vigário, fundaste igreja! Foste pastor, granjeaste multidão de pessoas para o aprisco do Senhor! Foste taumaturgo, operaste “milagres”! Foste discípulo do Cristo e realizaste longa lista de auxílio aos teus irmãos menores, quer na assistência material, quer na assistência espiritual. Que vida tão cheia de realizações! É por isso, ... porque não aceitas trabalhar e empreender menos do que o maior dos seguidores do Cristo, é que te cobras tanto!
(Extraído de OS CURADORES DO SENHOR, de Antônio Lobo Guimarães)
Nota: Um resumo biográfico de Francisco de Paula Vítor, elaborado por Osvaldo Esteves Faria, foi publicado no livro Vida e Mensagem, psicografado por Raul Teixeira, e pode ser visto (aqui)
Textos sobre a história da criação do Centro Espírita 24 de Junho
UM NÚCLEO ESPÍRITA
Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.
(JOÃO, cap. 4, v. 24)
Alberto Moreira Franco há tempos viera da cidade de Luminárias e morava com a família numerosa numa bela fazenda que começava na borda da Serra das Águas e subia encosta acima. Ele provinha de família católica, e sua mulher, Ana Moreira da Silva, era católica praticante. Assim, quando o filho Geraldo, ainda rapazote, comentou sobre umas sessões a que vinha assistindo num centro espírita que se formara no bairro do Campinho, Alberto levantou a ponta da sobrancelha e perguntou do que se tratava. Ouviu as explicações do filho, mas foi conferir se de fato elas correspondiam à verdade.
Desse modo foi que, em meados da década de 1930, Alberto conheceu o Espiritismo. Antônio da Silva Vidal, juntamente com seu irmão Manoel Vidal Júnior, fundara pequeno núcleo espírita de orientação kardecista. As sessões se davam num cômodo existente na propriedade de Manoel, comerciante português que residia numa casa grande e antiga, onde também possuía um comércio, situada no bairro do Campinho, no Ponto Chic. Esse era um local de comércio de grande movimento, visto que ali confluem ruas que dão acesso ao centro da cidade de Lambari, para os viajantes oriundos de Cambuquira, Conceição do Rio Verde e Campanha.
As sessões eram dirigidas por Antônio Vidal e atuavam como médiuns Agustinho da Costa Pinto e Armando Vieira da Silva, ambos modestos operários, também portugueses, que trabalhavam no calçamento das ruas da cidade. O terceiro médium era o garçom Osíris de Melo, conhecido por Dudu.
Alberto estudou as obras de Allan Kardec, mas não desenvolveu nenhuma mediunidade, e passou a frequentar e colaborar com as atividades do centro. Eram duas reuniões semanais, ambas abertas ao público. A assistência era pequena e as pessoas se assentavam nas cadeiras e caixotes de mercadorias tomados à venda de Manoel Vidal. Apresentavam-se como guias os Espíritos João de Azevedo, no médium Agustinho, e Artur Barbosa por intermédio de Dudu. Outras entidades também se manifestavam, e o Espírito de um indígena atuava por meio de Armando Vieira. O presidente abria a sessão com uma prece, um trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo era lido e comentado, e a seguir havia as comunicações mediúnicas dos guias e de Espíritos necessitados, que eram esclarecidos e assistidos nos seus padecimentos.
Esses portugueses, os Vidal, pioneiros do Espiritismo em Lambari, tinham vindo da cidade de Barra Mansa, no Estado do Rio de Janeiro, para explorar o ramo de extração de pedras e calçamento das ruas centrais da cidade. Os trabalhos espíritas que realizavam eram singelas sessões de que participavam pessoas humildes e esforçadas, de corações sinceros e ardorosos. Mas, por essa época, principalmente nas cidades do interior do País, havia muita ignorância e incompreensão com relação ao Espiritismo, e os seus praticantes eram com frequência objeto de perseguições, chacotas e preconceitos.
Muito embora essas dificuldades, o limitado núcleo se desenvolvia: chegavam novos frequentadores, formavam-se novos adeptos, pessoas e Espíritos necessitados eram ajudados, e todos iam bebendo comovidos os simples, lógicos e consoladores postulados da doutrina espírita: Deus, Espírito, Matéria, Pluralidade dos Mundos, Evolução, Encarnação, Reencarnação, Livre-Arbítrio, Causa e Efeito, Intervenção dos Espíritos no Mundo Corporal, Mediunidade.
O CENTRO ESPÍRITA 24 DE JUNHO
Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos.
(PAULO, I Coríntios, cap. 12, vs. 4-6)
Numa noite memorável, no centro fundado pelos irmãos portugueses no bairro Campinho, em Lambari, revelou-se o Espírito de Francisco de Paula Vítor.
Na humildade do pequeno núcleo, o iluminado Espírito daquele que em vida fora conhecido como Padre Vítor, cuja memória, por essa época, já era objeto de culto por milhares de pessoas, ressurge dos mortos para provar a existência da Verdadeira Vida e para conclamar os trabalhadores de todas as Searas do Cristo a tomar da charrua e ceifar a parte que lhes cabe na fundação do Reino de Deus na Terra.
E Francisco de Paula Vítor esclarece que, atuando do Mundo Maior, já se tornara pastor e educador não apenas dos irmãos de confissão católica, e sim também de todos aqueles que buscam o Reino de Deus pela senda que seja, visto que Jesus ensinara que nenhuma das Suas ovelhas se perderia. E informa que, além dos seus compromissos espirituais com a Igreja de Roma, a que dedicara sua última vida na Terra, e à qual continuava assistindo do Plano Espiritual, entre outras missões, recebera também a de guiar uma equipe responsável por fundar e orientar inúmeros centros espíritas, e em especial no Sul do Estado de Minas Gerais, em face de seus laços espirituais com a região em que estivera recentemente encarnado.
O irmão de luz prosseguiu dizendo que também aquele núcleo espírita de Lambari, cidadezinha tão ligada a sua Campanha, a terra em que nascera, estava entre aqueles que receberiam proteção de sua equipe espiritual. E acrescentou que acerbas lutas viriam para todos os trabalhadores da casa, que grandes desafios teriam de ser vencidos, fosse no plano material, fosse no plano espiritual, mas que ele estaria sempre presente nos momentos de maior dificuldade.
Despediu-se orando ao Pai e pedindo Sua proteção para todos os irmãos presentes. Antônio Vidal, Manoel Vidal, José da Cunha Dutra, Alberto Franco, o menino Armandinho Vidal, filho de Manoel, os médiuns Agustinho, Armando e Dudu, e uma dezena de pessoas anônimas, emocionaram-se às lágrimas, contemplados com a palavra extraordinária de Padre Vítor, pelas doces vibrações magnéticas que caíram sobre suas cabeças, pela energia invulgar que lhes vibrou os corações tocados de fé.
E, algum tempo depois, no dia vinte e quatro de junho de 1938 realizou-se a reunião de fundação daquele núcleo espírita, que tomou como nome o dia de sua fundação, e como protetor o Espírito de Francisco de Paula Vítor.
*Textos extraídos do livro ABIGAIL [Mediunidade e redenção]
Palestras sobre a história da casa e de seu patrono