Estamos defrontados no Espiritismo por uma tarefa urgente: desentranhar o pensamento vivo de Allan Kardec dos princípios que lhe constituem a codificação doutrinária, tanto quanto ele, Kardec, buscou desentranhar o pensamento vivo do Cristo dos ensinamentos contidos no Evangelho.
(ANDRÉ LUIZ. Estude e viva)
CAPÍTULO I - METODOLOGIA E PESQUISAS ESPÍRITAS
Amai-vos e instruí-vos.
(Mandamento dado a Allan Kardec pelo Espírito Verdade)
O Aprendizado Espírita é resultado da prática pessoal e da visão do autor quanto ao estudo, ao ensino e à divulgação do Espiritismo, e objetiva compartilhar textos, apresentações, técnicas, ferramentas, informações e referências sobre livros, cursos e sites para quem quer aprender a Doutrina Espírita e/ou divulgá-la por meio de reuniões de estudo, palestras ou textos didáticos.
Este site foi concebido e estruturado segundo o que o autor entende por Saber Doutrinário Espírita, qual seja
Conjunto das informações e do conhecimento, das experiências e das práticas, dos procedimentos e das técnicas acumulado pelos adeptos do Espiritismo no aprendizado teórico e na aplicação prática dos postulados de sua crença.
Para saber mais sobre o conceito de
Antônio Carlos Guimarães
CAPÍTULO I - METODOLOGIA E PESQUISAS ESPÍRITAS
O Espiritismo não é doutrina feita para sábios, mas para todos os que tenham um pouco de bom senso e de humildade.
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As obras de Kardec são a única fonte verdadeira do saber espírita. Quem não ler e estudar essas obras com humildade e com vontade legítima de aprender, não conhece o Espiritismo.
(J. HERCULANO PIRES. Kardec e a Ciência Espírita In O Mistério do Bem e do Mal)
Hipollyte Léon Denizard Rivail, como professor, pedagogo e diretor de escolas, havia adquirido no estudo, nas atividades teóricas e na prática, o mais amplo conhecimento dos problemas culturais do seu tempo.
De cultura acima do normal nos homens ilustres de sua idade e do seu tempo, impôs-se ao geral respeito desde moço. Temperamento infenso à fantasia, sem instinto poético nem romanesco, todo inclinado ao método, à ordem, à disciplina mental, praticava na palavra escrita ou falada, a precisão, a nitidez, a simplicidade, dentro dum vernáculo perfeito, escoimado de redundâncias. (1)
Em meados do Século XIX, diante dos fenômenos espíritas que ocorriam com intensidade e por toda a parte, Rivail, que há tempos se interessara pelo Magnetismo, resolveu estudá-los. Atualizado com a Conhecimento da sua época, adotou o método experimental, que era o método utilizado pelas ciências de então. Mas logo nos primeiros resultados verificou que o método era inaplicável, pois que ele tinha a matéria como objeto, o que excluía o espírito, que era considerado "imaterial", e, desse modo, "inverificável". (2)
Assim, as observações não podiam ser feitas da mesma maneira, requeriam condições especiais e uma concepção diferente. Mas a orientação metodológica da matéria havia provado sua eficiência, e Rivail resolveu desenvolver suas pesquisas utilizando o método experimental, aplicando a indução ao invés da dedução, e mudando o seu objeto. E o professor transformou o espírito, entidade metafísica, em objetivo específico da pesquisa científica, revelando as leis do mundo espiritual. (2) (3)
Depois ele explicaria: As ciências vulgares repousam sobre as propriedades da matéria, que podemos manejar à vontade. Os fenômenos por ela produzidos têm como agentes forças materiais. Os do Espiritismo têm como agentes inteligências que possuem sua independência, seu livre-arbítrio, e de modo algum se submetem aos nossos caprichos. Escapam destarte aos nossos processos anatômicos ou de laboratório, bem como aos nossos cálculos e, por consequência, não são mais de alçada da ciência propriamente dita. (4)
Anos mais tarde, Rivail, já então assinando-se Allan Kardec, escreveria:
Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, isto é, aplicando o método experimental. Fatos de uma nova ordem se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege; depois, deduz-lhes as consequências e busca as aplicações úteis. Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não apresentou como hipóteses nem a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina; concluiu pela existência dos Espíritos, quando essa existência ressaltou evidente da observação dos fatos; assim quanto aos outros princípios. Não foram os fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a teoria é que veio subsequentemente explicar e resumir os fatos. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação. As ciências só fizeram progressos sérios depois que seus estudos se basearam sobre o método experimental; até então, acreditou-se que esse método não era aplicável senão à matéria, ao passo que o é igualmente às coisas metafísicas. (Grifamos.) (5)
(1) A aparência de Allan Kardec. Canuto de Abreu. C. Fraterno ABC, out/2001
(2) J. Herculano Pires. O método de Kardec. In A Pedra e o Joio,1975
(3) Canuto Abreu. A Revelação Espírita. In O Evangelho por fora, 2a. parte
(4) Allan Kardec. Intervenção da ciência no Espiritismo. Revista Espírita, Junho/1859
(5) Allan Kardec, A Gênese, Cap. I, 14, 1868.
O Espiritismo em seu tríplice aspecto
"O Conhecimento pode assumir três aspectos ou estados: o Científico, o Filosófico e o Religioso."
"No Espiritismo, a Ciência fornece as provas que convencem; a Filosofia, os elementos que esclarecem; a Religião, a moral que aperfeiçoa."
Da Ciência Espírita, nasceu a Filosofia Espírita. E, desta, nasceu a Religião Espírita. O Espiritismo é, pois, uma doutrina com aspectos científicos, filosóficos e religiosos. (1)
Chibeni (2) diz que essa caracterização do tríplice aspecto não pode ser encontrada exatamente nesses termos na obra de Kardec, e que ela, todavia, é correta e, em sua essência, está presente no pensamento do criador do Espiritismo e de seus mais lúcidos continuadores.
No entanto, o mesmo autor sugere que talvez devêssemos evitar a expressão "tríplice aspecto", pois ela pode dar a impressão que se trata de três elementos separados ou separáveis, que agrupamos apenas por conveniência, o que não é verdadeiro, pois eles estão inextricavelmente ligados.
Chibeni conclui deste modo sua tese:
Se pensarmos no Espiritismo em termos de filosofia, será uma filosofia apoiada em bases científicas, e que tem como um dos objetivos centrais o estudo das questões morais.
Se pensarmos em termos de ciência, não será uma pesquisa seca, que simplesmente constate e sistematize fatos, mas de uma investigação de longo alcance sobre um objeto de fundamental importância, o elemento espiritual. Essa ciência complementa, pois, as ciências acadêmicas, cujo objeto de estudo é o elemento material. E, pela própria natureza de seu objeto de estudo, a ciência espírita necessariamente diz respeito a tópicos genuinamente filosóficos, dentre os quais ressalta, por sua importância prática, aqueles referentes à moral.
(1) Kardec e a Ciência Espírita In O Mistério do Bem e do Mal. J. Herculano Pires
(2)Espiritismo em seu tríplice aspecto. Silvio S. Chibeni. In Reformador - Ago/Set/Out-2003
A mediunidade é o meio direto de observação. O médium ─ permitam-nos a comparação ─ é o instrumento de laboratório pelo qual a ação do mundo invisível se traduz de maneira patente. Pela facilidade que ela nos oferece de repetir as experiências, permite-nos estudar o modo e as diversas nuanças dessa ação. Foi desses estudos e dessas observações que nasceu a ciência espírita.
(ALLAN KARDEC. Revista Espírita, Jan/1863)
A ciência é fruto da atividade científica, e caracteriza-se por dois aspectos complementares: uma teoria e uma prática.
A teoria é constituída por alguns princípios básicos, inalteráveis, e por outros princípios auxiliares, alteráveis para que se possam adaptar aos fatos. A prática consiste na procura de fatos que devem estar de acordo com a teoria, explicados por ela.
Existem, ainda, norteando a atividade, normas estabelecendo o que se deve e o que não se deve fazer (regras metodológicas). O corpo teórico deve também ter uma certa coerência interna e não se contrapor, frontalmente, com os equivalentes de outras ciências estabelecidas.
A ciência espirita apresenta também características tais como essas, classificando-se entre as ciências humanas — aquelas que tem por objeto central o ser humano em seus diversos aspectos, como a psicologia, a antropologia, a sociologia, a história, etc.
O laboratório da ciência espírita é o centro espírita. A mediunidade é o meio direto de observação. O médium é o instrumento de laboratório
Nos centros espíritas estão os que conhecem a teoria e realizam a prática. Foi ali — nos centros espíritas — que ela foi feita e continua sendo feita. E não nos centros de metapsíquica ou de de parapsicologia, que não satisfazem os requisitos da atividade científica, pois essas não possuem uma teoria.
Uma ciência pode ser exposta por meio de seus princípios, e no caso da ciência espírita os princípios são estes:
(2) Baseado em Introdução à Ciência Espírita. Aécio P. Chagas. Lachâtre, 2004.
Uma tese sobre a Revelação Espírita
Este livro é o repositório de seus ensinos. Foi escrito por ordem e mediante ditado de Espíritos superiores, para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, isenta dos preconceitos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a expressão do pensamento deles e que não tenha sido por eles examinado. Só a ordem e a distribuição metódica das matérias, assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem obra daquele que recebeu a missão de os publicar.
ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos, Prolegômenos
Na fase 'pré-espírita', a Revelação dos Espíritos foi 'doutrina científica', por ser calcada somente em fatos. Não chegou, porém, a ser um 'Ciência', no sentido moderno desta palavra.
Na fase 'espírita', apresentou-se como 'doutrina filosófica', por ser deduzida dos fatos e de instruções dos Espíritos. Não logrou, entretanto, ser uma 'Filosofia' na acepção atual deste vocábulo.
Na fase 'pós-espírita', tornou-se uma 'doutrina religiosa', por ser deísta, animista e moralista, contendo, assim, temas teológicos. Todavia não é uma 'Religião', segundo o conceito corrente do termo.
CANUTO ABREU. A Revelação Espírita. In O Evangelho por fora, 2a. parte
"[O Espiritismo]... foi trabalho inspirado e orientado pelas mais elevadas forças espirituais que o nosso mundo já teve a oportunidade de conhecer".
(HERCULANO PIRES. O Espírito e o Tempo. Ruptura do arcabouço literal.)
Tábua de Assuntos
Nesta Série MPE - METODOLOGIA E PESQUISAS ESPÍRITAS, vamos tratar dos seguintes temas:
Instrutor Guima
Caro(a) leitor(a),
Os módulos vinculados a esta Seção I - METODOLOGIA E PESQUISAS ESPÍRITAS (MPE) estão nos links abaixo.
I1 - MÓDULO Técnicas de fichamento, anotações e mapas mentais
Instrutor Guima
Veja em meu site pessoal estes materiais de metodologia:
I2 - MÓDULO Conexões entre as Obras Básicas da Doutrina Espírita
Estudo de José Jorge, extraído dos Anais do ICEB, 1964/70, Rio de Janeiro, RJ. Veja (aqui)
I3 - MÓDULO O Livro dos Espíritos e seus desdobramentos
Estudo de Deolindo Amorim sobre as relações de O Livro dos Espíritos com outros livros das Codificação. Veja (aqui)
I4 - MÓDULO Guia para Estudo da Doutrina Espírita
Livro de Vera Lúcia de Oliveira Garcia, que faz a conexão entre as 5 obras básicas do Espiritismo mais a 1a. parte de Obras Póstumas. Veja (aqui)
I5 - MÓDULO Referências e pesquisas bibliográficas
Veja:
I6 - MÓDULO Histórias de O Livro dos Espíritos
Os textos abaixo historiam como se deu surgimento e como foi elaborado O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec, em meados do Século XIX.
Juntamos também artigos de Sílvio Seno Chibeni com detalhes pouco conhecidos das edições francesas de O Livro dos Espíritos.
Confira abaixo:
ARTIGOS E TEXTOS
CIÊNCIA ESPÍRITA
FILOSOFIA ESPÍRITA |
MEDICINA E ESPIRITUALIDADE
Veja também: